segunda-feira, 1 de março de 2021

RELATO DE PARTO: MÃE DE SEGUNDA VIAGEM


Dia 23 de janeiro veio ao mundo meu guerreiro, meu gigante, meu filho Levi. E assim como fiz no nascimento da Laura, vim ao blog registrar meu relato de parto, para, no futuro, ler e reler cada detalhe desse momento, que foi único.

Dizem que a segunda gestação, o segundo parto, o segundo filho é mais fácil, mas não é bem assim... Após 2 abortos seguidos, a segunda gestação se tornou a quarta. Após 39 semanas esperando e me preparando para o parto normal, no ápice da dor pedi pela cesárea. E após este primeiro mês revivendo a experiência de ter um recém nascido em casa, sim... cuidar do segundo filho está sendo mais fácil. Graças a Deus né?

Brincadeiras a parte, acho importante registrar essa trajetória, desde o meu primeiro aborto, pois é o tipo de coisa que a gente sabe que ocorre, porém não acredita que vá acontecer justamente com a gente. Duas vezes então, nem se fala. Em virtude desse histórico, que me deixava bastante preocupada, evitei ao máximo fazer atividades físicas nos primeiros meses, que também foram marcados por muito enjôo. Não suportava o cheiro dos sabonetes, do amaciante, o desodorante do meu marido argh... Enfim, foi um primeiro trimestre tenso!

Com relação ao pré natal, a princípio busquei por um médico que já conhecia. Apesar de atender pelo meu plano de saúde, ele cobrava um taxa de disponibilidade de 4 mil reais pelo parto normal. Sim, se você pretende ter um parto normal, prepare o bolso. Mas, além da bendita taxa, este médico vivia sugerindo que eu também fizesse os ultrassons com ele, pagando de forma particular por exames que já eram cobertos pelo meu plano de saúde. Essa conduta foi me incomodando, e por fim decidi me consultar com outro obstetra.

Este outro médico foi indicado pela minha irmã. Mas, quando procurei por seu perfil no Instagram, confesso que não confiei muito naquele "meninão" que encontrei na rede social. Apesar da cara de novinho, minha irmã garantiu que era um médico experiente, e, como ele cobrava uma taxa de disponibilidade menor (2 mil e quinhentos reais), decidi marcar uma consulta para conhecê-lo pessoalmente.

Nesta primeira consulta, que durou cerca de 2 horas, após uma explicação detalhada sobre sua forma de trabalho, eu e meu esposo decidimos dar continuidade ao pré natal com o Dr João. Ele faz parte uma equipe obstetrícia composta por mais quatro médicas que propõe um trabalho mais humanizado. Na minha percepção ainda há pontos a melhorar, mas, sem dúvida, eles atuam de uma forma diferente da maioria dos médicos que conheci. No decorrer do pré natal fiz exames que não realizei na primeira gestação; o Dr João foi o único médico que falou comigo sobre plano de parto, realizando inclusive uma reunião com toda a equipe obstetrícia para conversarmos a respeito disso; e, após o parto também foi o único médico que me questionou sobre depressão pós parto. Estes entre outros pontos deveriam ser práticas rotineiras em todo pré natal, mas, tendo passado por no mínimo oito obstetras na primeira gravidez, posso dizer que o atendimento que tive com o Dr João foi o melhor.

Ciente dos meus abortos anteriores, ele solicitou alguns exames complementares, mas, felizmente estes exames não indicaram problema algum. Como minha glicose estava ligeiramente alterada, o Dr João também recomendou a redução da ingestão de açúcar e a realização de atividades físicas. Na época ainda estava com receio de um terceiro aborto, porém, eu já havia chegado a metade da gestação e meu GO garantiu que a atividade não ofereceria risco, daí comecei a fazer Pilates.

Fazendo exercícios e reduzindo o açúcar, meu exame de diabetes gestacional deu negativo, entretanto as ultrassonografias indicavam que o Levi seria um bebê grande, o que começou a me preocupar, já que tinha a pretensão de ter um parto normal. A previsão de nascimento do Levi era dia 28 de janeiro, daí dia 13 fiz o último ultrassom. Na ocasião o peso provável foi de 3 quilos e 800 gramas. Diante disso, meu obstetra sugeriu a indução do trabalho de parto, antes que o bebê se tornasse maior, inviabilizando o parto normal. Então marcamos a internação para o dia 21 de janeiro.

Se a princípio havia aquela expectativa de início do trabalho de parto a qualquer momento, de repente nos deparamos com este agendamento, daí procuramos organizar os últimos detalhes para a chegada do Levi. As malas já estavam arrumadas; a Laura foi passar uns dias com meu pai; minha sogra veio me ajudar a organizar a casa; e, em meio a tudo isso, caiu a ficha de que havia chegado o momento que tanto esperamos e confesso que senti medo. Medo de algo acontecer de errado, medo de não ser uma boa mãe, medo do que estava por vir. Mas com ou sem medo, lá estávamos nós, eu e meu marido, no dia seguinte, as seis da manhã, na maternidade, para iniciar a indução.

Instalados em um dos apartamentos, as sete horas recebi, de modo intravaginal, o primeiro comprimido de misoprostol. Meu obstetra informou que o procedimento se repetiria de seis em seis horas, se necessário, até no máximo oito comprimidos. As contrações poderiam surgir a qualquer momento, pois cada organismo responde de uma maneira. Com tempo de sobra, fui pesquisar pelos relatos de quem já havia passado pela indução. Porém, enquanto algumas respondiam bem já no primeiro comprimido, outras precisavam passar por todas as oito aplicações, e claro que eu fui a sortuda que teve de ficar internada por dois dias, na maior expectativa, sentindo pouquíssimas contrações.

No segundo dia, houve duas situações que acho importante destacar. A primeira se refere ao atendimento da enfermeira Marla. Pena não tê-la conhecido já primeiro dia. Digo isso porque ela demonstrou ter muito conhecimento, aplicou o comprimido com bastante facilidade e deu dicas sobre como posicionar o bebê, para facilitar a dilatação, dentre outras coisas que as outras enfermeiras não haviam feito. A segunda situação, foi uma mensagem da esposa do meu pai. Na mensagem ela perguntou se estava tudo bem e, com bastante delicadeza me lembrou que um banho quente poderia ajudar a aumentar as contrações. Parece coisa boba, mas em momentos delicados, tudo que precisamos são de pessoas dispostas a ajudar. Não falo de pessoas dizendo o que você deve ou não deve fazer, dando palpite, pois a colocação dela foi diferente. Talvez não só pela sugestão, mas também pelo modo de falar. Seja como for, estas duas pessoas me ajudaram imensamente, em um momento no qual já me abatia por não conseguir entrar em trabalho de parto.

Seguindo a sugestão da esposa do meu pai, fui tomar um banho quente e lá desabei. Chorei muito e pedi a Deus que iniciasse o trabalho de parto. Queria muito um parto normal, mas se não fosse a vontade Dele, que Deus confortasse meu coração, para aceitar o que estava por vir. Então, por volta das oito da noite o Dr João chegou e começou a acompanhar minhas contratações. Após a aplicação do comprimido pela enfermeira Marla, senti que as contrações haviam aumentado, mas ainda estavam leves. Daí meu médico passou a monitorar o intervalo entre as contrações e após um tempo decidiu que já seria possível dar continuidade a indução com ocitocina.

Como o aparelho de ar condicionado do nosso apartamento não estava funcionando bem, o Dr João solicitou a troca de apartamento. Nesse meio tempo ele já havia tentado por duas vezes romper minha bolsa, a fim de acelerar o trabalho de parto. Já instalados no outro apartamento, meu GO tentou novamente romper a bolsa. Meu colo de útero estava muito alto, o que dificultou o rompimento, mas nesta terceira tentativa, deu certo. Nesse momento as contrações começaram a aumentar e finalmente vieram as dores. O Dr João recomendou que eu caminhasse pelas rampas da maternidade, para ajudar no trabalho de parto. Quando vinham as contrações, eu me agachava para facilitar a dilatação. Comecei a sentir vontade de vomitar, daí voltei para o apartamento. Lá o Dr João havia trazido velas e um aromatizador, além daquela bola de Pilates, que, imediatamente usei para aliviar a dor. 

Como minhas dores eram pélvicas, a bola ajudou bastante. Mas a intensidade aumentava, daí meu médico sugeriu ir para o chuveiro. No chuveiro, fiquei debruçada sobre a bola com a água quente caindo na minha lombar, mas esta posição não me favoreceu e saí do chuveiro com tanta dor que pedi pela cesárea.

O Dr João e meu marido tentaram me tranquilizar, mas a dor se tornou muito intensa. Deitada na maca, fiquei encolhida pressionando uma camisola hospitalar entre as pernas. Era o que aliviava a dor pélvica. Cheguei ao ponto de nem aceitar mais as massagens, que pareciam despertar ainda mais as dores. Ao realizar o exame de toque, meu médico verificou que eu tinha apenas 4cm de dilatação. Então pedi novamente pela cesárea. Meu marido me perguntou se era isso mesmo que eu queria e por um momento me acalmei e pedi ao menos pela analgesia. A enfermeira me aplicou algum medicamento e meu GO pediu que eu esperasse por mais uma hora para aguardar a evolução da dilatação. Com muita dor, só me lembro de dizer que se doía tanto com apenas 4cm, eu não suportaria chegar aos 10cm. Vale lembrar que na minha primeira gestação, já cheguei ao hospital com 4cm de dilatação e a dor não era tão intensa.

Diante de tudo isso, meu médico foi procurar pelo anestesista e quando voltou fez novamente o exame de toque. Eu permanecia com 4cm de dilatação, no entanto o Dr João disse que sentiu uma bossa na cabecinha do bebê e naquele momento ele percebeu que não seria possível um parto normal, devido ao tamanho da criança. 

Fui levada para o centro cirúrgico, onde recebi o soro e a anestesia. As dores desapareceram e eu finalmente comecei a me acalmar. Daí, em pouco tempo, meu marido chegou e o Levi nasceu dia 23 de janeiro, a 1 hora e 25 minutos da madrugada de sexta para sábado. Quando abaixaram o tecido, que nos impede de ver o procedimento cirúrgico, simplesmente desabei em choro ao ver aquele bebê lindo e cheio de saúde, graças a Deus! Minha reação automática foi me levantar para pegá-lo, mas não podia me levantar, então passaram o Levi por baixo do tecido e o colocaram sobre meu colo. Quanta felicidade! O pediatra tentou colocá-lo para amamentar, meu marido cortou o cordão umbilical e em seguida o Levi foi levado para o berçário.

Após a conclusão dos procedimentos necessários, o Dr João foi ao berçário e voltou contando que o Levi havia nascido com 4 quilos e 290 gramas. Meu gigante! Fui levada de volta para o quarto, onde tive de ficar deitada por mais 12 horas, devido a anestesia e logo chegaram meu marido e o Levi. 

Ainda sobre o atendimento na maternidade, também gostaria de destacar o trabalho do pediatra que nos acompanhou. Ele se apresentou a mim e ao meu esposo já no primeiro dia da internação e mesmo sendo de poucas palavras, ele ganhou nossa simpatia. No momento da alta, também foi ele quem nos repassou as orientações e apesar de o Levi apresentar sinais de icterícia, ele nos informou que a maioria dos bebês manifestam algum grau dessa doença e que o bebê melhoraria tomando banho de sol pela manhã e no fim da tarde, simples assim. Beeem diferente do tratamento com banho de luz que nos manteve na maternidade por 5 dias após o nascimento da nossa primeira filha, o que foi bastante desgastante.

A respeito da via de parto, tendo passado por duas experiências bem diferentes, eu ainda prefiro o parto vaginal. Enquanto estive na maternidade não senti dor alguma relativa a cesárea. Acho que ainda era efeito da anestesia. Mas, já em casa, percebi que teria de cumprir um resguardo mais rigoroso do que tive na gravidez da Laura. Na primeira semana o Levi acordava de uma em uma hora e era terrível ter de deitar e levantar a noite toda com aquele corte na barriga. Se eu tossia, parecia que minhas entranhas saltariam pra fora. Até dar risada parecia um sacrifício e eu não havia me preparado para isso. Sabia da possibilidade da cesárea, mas não acreditava nela. Daí veio a frustração. Me senti muuuito mal por ter pedido pela cesárea, por mais que o próprio médico tivesse identificado a necessidade do procedimento. Foram dias de choro e confesso que as vezes ainda lamento não ter sido possível um parto normal. Mas Deus sabe o que faz e o importante é que eu e o Levi estamos bem e saudáveis.

Diferente de algumas mulheres, que não suportam o período de gestação, eu amo estar grávida. Acho simplesmente incrível sentir meu filho crescendo dentro de mim, apesar dos enjoos e mal estar que nos acompanham grande parte desse período. Provavelmente, não passarei novamente por uma gestação, infelizmente. Todavia, estas lembranças que aqui registrei me confortam e me encorajam a ser a melhor mãe que eu puder para meus filhos.


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